Pastor João Camilo dos Santos
João Camilo dos Santos nasceu em Piaçabuçu (AL), provavelmente em 23 de junho de 1909. Segundo filho de Antônio Roberto dos Santos e Francilina Orminda dos Santos, era sapateiro e sacristão da Igreja Católica, que, com mais de vinte anos de idade, foi convertido pelo missionário John Mein.
Trabalhou como evangelista nos municípios de Quebrângulo (AL), Penedo (AL) e Neopólis (SE), construindo o templo da igreja, neste último.
Em 1939, casou-se com Eunice Dias Sales, que lhe deu sete filhos: Eliel (in memoriam), Eliad, Ebis, Eder (in memoriam), Eder, Eliam e Elioenai.
Em 1948, o Pastor John Mein trouxe-o para fazer o curso no Seminário Teológico Batista do Norte do Brasil, em Recife. Durante seu curso, trabalhou como missionário da Igreja Batista da Torre, pregando o evangelho nos municípios de Limoeiro (PE) e São Lourenço da Mata (PE). Dizia ele que as dificuldades eram tão grandes que, para estudar e criar os filhos, não comia o pão servido no seminário, para juntá-lo e levá-lo para casa no final de semana. Em 1952, formou-se como Pastor.
Em 1954, foi para o Sertão através do missionário Gerard Siright, onde assumiu o pastorado da Igreja Batista em Cabrobó (PE) e da Igreja Batista de Espinheiro em Abaré (BA).
Naqueles tempos difíceis, quando os crentes eram perseguidos e chamados de “bodes”, Pastor Camilo, que sempre teve uma visão além do seu tempo, tanto no campo ministerial, como nos campos da educação, da saúde e social, procurou fazer amizade com a população católica de Cabrobó e com os padres. Padre Cizenando de Sá Barreto e, posteriormente, o Padre Pedro Kinape eram muito amigos dele, mantendo um bom relacionamento com visitas freqüentes nas suas casas. A grandeza das atitudes do pastor evitou qualquer conflito com os crentes, Além de conquistar muitas vidas para Cristo. Cabe destacar, que a disputa religiosa é considerada a segunda maior causa de guerras na história da humanidade. Nesse contexto, convém ressaltar a grandeza da visão do pastor como um missionário, além do seu tempo, com um ministério sempre direcionado contra a disputa religiosa, o preconceito de raça ou de classe social.
Como pastor muito pobre, missionário dos batistas pernambucanos, enfrentava todos os sacrifícios, andando a pé, de canoa ou de jumento, para atender quase toda a região sertaneja do Vale do São Francisco de Pernambuco e da Bahia, além dos sertões do Araripe, do Pajeú/Moxotó e do Agreste de Pernambuco.
Muitas congregações e igrejas foram fundadas e vários templos foram construídos. O seu trabalho foi levado aos municípios baianos de: Juazeiro, Curaçá, Abaré, Chorrochó e Paulo Afonso. Distritos, povoações e fazendas da Bahia, também foram evangelizadas, como Riacho do Mato, Espinheiro e Ibó, no município de Abaré; Bem Viver no município de Chorrochó e Pedra Branca no município de Curaçá, organizando e pastoreando congregações e igrejas nessas localidades. Em Pernambuco, o missionário incansável pregava ainda o evangelho nos municípios de Cabrobó, Floresta, Orocó, Parnamerim, Exu, Salgueiro, Serra Talhada e Belém do São Francisco, onde organizou e pastoreou sua congregação e sua igreja.
Pastor Camilo construiu templos nas cidades de Neópolis em Sergipe e Cabrobó em Pernambuco. Construiu, também, nos distritos e povoações de Ibó, Pedra Branca, Riacho do Mato, na Bahia e em Bananeiras, no município de Cabrobó (PE). Em Belo Jardim (PE) e Belém do São Francisco (PE), ele comprou os terrenos para a sua construção. Na construção dos templos, sempre fazia uso do regime de mutirão, com o trabalho sendo realizado pelos próprios crentes.
Com a ajuda e o apoio de sua esposa Eunice, sempre se preocupou em minorar o sofrimento do povo carente, levando do Recife médicos, dentistas, roupas, remédios e alimentos. Conseguia, também, dinheiro para os que tinham perdido tudo nas enchentes ou nas secas, ajudando-os a refazerem seus plantios.
Preocupou-se muito com saúde do povo. Sua residência era usada para a distribuição de remédios, Posto da Malária, “enfermaria” e casa de parto. Sua esposa era parteira e atendia as parturientes do interior e da cidade em casa e nos domicílios. Ela executava todo o trabalho do Posto da Malária sem nenhuma remuneração, cuidava dos doentes com qualquer tipo de enfermidade, além de acompanhar as pessoas enfermas, para atendimento nos hospitais de outros municípios.
Na educação, cabe ressaltar que, muito tempo antes de se falar em MOBRAL, ele criou, em Cabrobó (PE), a alfabetização de adultos, construindo o Instituto Batista e a Escola Zilda Cavalcante de Sá, destinada às crianças. Nessas iniciativas, convém destacar o apoio que sempre teve dos membros da igreja, de sua dedicada tesoureira Claésia Torres e das professoras voluntárias, Maria Irene C. de Sá (in memoriam), Lauraci G. do Nascimento e Marli Cavalcanti. O Pastor Camilo encaminhou, ainda, muitos filhos da fé para o Seminário de Educadoras Cristãs, Seminário Teológico Batista do Norte do Brasil e para o Colégio Americano Batista com o apoio do seu diretor Pastor José Florêncio Rodrigues, inclusive, na educação dos seus filhos. Em Cabrobó, só existia o curso primário, e o pastor, muito pobre, não tinha condições financeiras para que os filhos estudassem no Recife.
No período de 1966 a 1974, assumiu o pastorado da Igreja Batista do Alto da Boa Vista em Arcoverde (PE), fundando e pastoreando, também, a Igreja Batista em Belo Jardim (PE). Em 1970, reassume o pastorado da Igreja Batista de Cabrobó e, em 1974, volta definitivamente para o Sertão do São Francisco, após a morte de sua querida esposa, Eunice.
Entre as várias homenagens que recebeu como reconhecimento do seu trabalho, cabe destacar o título de Cidadão Cabroboense, concedido pela Câmara Municipal de Vereadores de Cabrobó. Sua esposa, também, foi homenageada com o seu nome perpetuado em uma das ruas da cidade.
Em 1990, um derrame atingiu o Pastor Camilo e, em 28 de março de 1998 em Cabrobó (PE), sua voz calou-se para sempre. O pioneiro e verdadeiro herói do sertão, construtor de templos, que salvou milhares de vidas para Cristo, partiu para a eternidade. Na verdade, sua voz nunca se calará porque a sua vida, o seu exemplo, o seu trabalho como evangelista, pastor e edificador de vidas, mesmo depois de morto, ainda falará e continuará a ser uma pregação para o povo do Sertão.
Texto: Daniel, Eliam e Ebis.
Trabalho Missionário
REGISTROS DE ATIVIDADES DO PASTOR JOÃO CAMILO DOS SANTOS NO JORNAL BATISTA E NO EVANGELIZADOR
1934. PREGANDO EM PENEDO E NEOPOLIS
22. SERGIPE. IGREJA BATISTA DE VILA NOVA (NEOPOLIS). A IB de Vila Nova(SE) comemorou no 7 de Junho de 1936 o 4º. Aniversario de pastorado do pastoral Tiago Lima. Na oportunidade deram publica profissão de fé Natanael Colaço Rodrigues, o qual se batizou no dia 28.06.36, juntamente com as irmãs Elita e Irenita de Oliveira Torres. A Igreja resolveu pedir as cartas demisórias: de João Camilo dos Santos, ‘a IB de Penedo; Tertuliana de Souza Nunes e Maria Colaço, a IB União; Américo Baptista de Paula e sua esposa Amélia Gomes de Paula, a IB Maroim e ainda foi aceito o irmão Ariston Batista de Paula, de Dores. A UMB foi reorganizada com 18 jovens, ficando a diretoria assim constituída: Presidente – João Camilo dos Santos; vice-presidente – Electa Dias; secretaria arquivista – Elza Dias; correspondente- Américo Baptista de Paula; thesoureiro – Santino Rodrigues; bibliotecário - Tiago Lima; capitães – Natanael Colaço e Zacarias Cavalcante. A EBD no dia 14 de junho teve a freqüência de 39 pessoas e a Ceia do Senhor foi servida a 29 pessoas. (...) No dia 21, depois de pregação do irmão João Camilo dos Santos. Houve mais duas conversões. Fotografia com nove pessoas. OJB, de 23071934, p. 14.
1936. TRABALHANDO EM NEOPOLIS. CANDIDATO AO SEMINARIO
34. SERGIPE. IGREJA BATISTA DE VILA NOVA (NEOPOLIS). RELATÓRIO. São passados doze anos nessa tarefa bendita de pregação do evangelho de Jesus. Segue-se o que temos feito nos últimos dois anos, visto que no ano passado não festejamos esta data. Movimento de Membros: Em setembro de 1934 esta igreja se compunha de 25 membros. Durante esse tempo entraram: por batismo 8; por carta, 5; total 38. Saíram: por carta, 5; por exclusão 1. Membros em comunhão nesta data: 32. O maior aumento foi neste ano pois o pastor já batizou 7 crentes novos que estão permanecendo fieis ao Senhor entre os quais um moço em quem repousam esperanças. Dos 13 membros fundadores estão conosco no presente 4, os quais estão ativos. Desde sua organização a igreja já alistou 73 membros. Cultos e Congregações. A igreja realiza cinco cultos semanais: dois no domingo, um na quarta-feira, na sede da igreja, um na segunda e outro na quinta, em casas e ruas diferentes. Nestes cultos tem tido a valiosa cooperação de diversos irmãos, alem do pastor da igreja, como pastores John L. Bice. Alberico de Souza e Carlos F. Stapp; seminarista Otoniel Andrade e os irmãos Joaquim Mazoni, Miguel Farias, João Camilo, Nathanael Colaço, Zacharias Cavalcanti e César Cavalcanti. Os irmãos João Camilo e Nathanael Colaço são candidatos ao ministério. Organizações Internas: A Escola Dominical continua na vanguarda da utilidade e do desenvolvimento espiritual da igreja com o esforço do superin-tendente, com 4 classes e 34 alunos e uma freqüência de 80%. (...) O irmão Mazoni juntamente com uma comissão eleita pela igreja estuda a possibilidade da fundação de uma escola anexa a igreja. Pensamos em realizar uma Escola Popular periodicamente. A União de Mocidade Baptista com a cooperação do valiosa do irmão João Camilo reorganizou-se em no dia 7 de junho ultimo. Com seus programas bem executados tem alcançado uma media de 60 pessoas. Finanças: Durante estes dois anos entraram nos cofres da igreja as quantias: Dízimos 2:707$800; Ofertas 157$000; Coletas de EBD 1:027$500; total 3:892$300. Despezas 3:748$700, assim distribuídas: Salário pastoral 2:000$408 para o Seminário do Norte 8$00, Missões Estrangeiras 216$000; M. Nacionais 96$000; Missões e Educação 140$000; o Jornal Baptista 10$800; Comissão Predial deposito 1954000; representação na Convenção 185$000. Internas 937$900, saldo 143$600. Permita Deus que possamos ter melhor relatório a apresentar daqui a um ano. Villanova, 20.09.1936. Tiago Lima, pastor. OJB, de 29.10.1936, p. 14.
1948 – PASTOREANDO EM SÃO LOURENÇO DA MATA
8. A PIB DA TORRE E SIB SÃO LOURENÇO REALIZAM BATISMOS. OEvangelizador nº 1, Novembro de 1952, p. 5. O pastor Antonio Dorta, no dia 19 de dezembro, efetuou na PIB da Torre, realizou batismos de 9 pessoas. No dia 9 de o pastor João Camilo, da SIB São Lourenço, efetuou batismos de dois novos convertidos daquela igreja-filha.
1953 – CONFERENCIAS EM GAMELEIRA, LIMOEIRO
30. IB DE GAMELEIRA REALIZA CONFERENCIAS. OEvangelizador nº10-11, Agosto-Setembro de 1953, p. 5. A IB de Gameleira promoveu uma série de conferencias, proferidas pelo pastor João Camilo dos Santos, da SIB S. Lourenço (PE). Na reunião de encerramento havia um publico de 500 pessoas.
1954 – PASTORADO NA IB LIMOEIRO
53. JOÃO CAMILO DOS SANTOS PASTOREIA LIMOEIRO. OEvangelizador nº 2, Janeiro de 1954, p.7. O pastor João Camilo dos Santos está pastoreando a IB Limoeiro há dois anos. Ali esta realizando um grande ministério, também pastoreia as IB de Gameleira, Araras e Ilheitas, inaugurando o batistério da 2ª. IB Limoeiro. Esteve presente o pastor David Mein secretario executivo do campo.
1954 – PASTORADO NA IB CABROBÓ
30. NOTICIAS DO OESTE PERNAMBUCANO: ASSOCIAÇÃO SERTANEJA. OEvangelizador nº 7, Maio de 1954, p. 5. Motivo de grande alegria a chegada de mais dois pastores para o campo oeste de Pernambuco: os pastores Luis Domingos Coelho, empossado no pastorado da Igreja Batista de Serra Talhada e João Camilo dos Santos, empossado no pastorado das Igrejas Batistas de Cabrobó e Ibó, às margens do Rio São Francisco. O missionário Geraldo B. Seright e mais três pastores fizeram uma ligeira e proveitosa viagem nos dias 9 a 11 de abril, organizando em Igreja a congregação batista de Ibó, obtendo onze decisões com quase todo o povo presente e na volta consagraram ao Ministério da Palavra o irmão Luis Domingos Coelho. Alem dos citados cooperam com este campo os pastores: Vicente Gomes da Silva, em Triunfo; Antonio Barbosa, em Serra Talhada; Antonio Gonçalves, em Bodocó; João Joaquim, em Barra (Flores) e Geraldo B. Seright em Tupanaci. Deus está abençoando o trabalho e pedimos aos irmãos que orem por estes pastores para que possam eles fazer para ganhar o sertão para Cristo.
1954 – ORADOR DA ASSOCIAÇÃO SERTANEJA
63. ASSOCIAÇÃO SERTANEJA PROMOVE CAMPANHA EVANGELISTICA. OEvangelizador nº 12, Outubro de 1954, p.1. A Associação Sertaneja de Pernambuco promoveu a campanha de evangelização no mês de setembro, com os pastores locais e os alunos da Escola Bíblica de Serra Verde, nas seguintes localidades: Barra, Salgueiro, Cabrobó, Bodocó, Tupanaci, Serra Talhada e Flores, com 50 decisões. As conferencias de Triunfo estão programadas para o corrente mês. A 9ª. Reunião da Associação Sertaneja se realizou na Igreja Batista de Barra, em Triunfo, nos dia 17 e 18 de Julho, com a presença de 70 mensageiros, repre-sentando as oito igrejas do campo. A sua diretoria ficou assim constituída: Presidente: Geraldo B. Seright; vice-presidente: Vicente Gomes da Silva; secretario: Antonio Gomes Barbosa; tesoureira: Kezzia Seright. O sermão foi proferido pelo pastor Israel Dourado Guerra. O pastor Davi Leite pregou um sermão doutrinário e na ultima sessão o pastor João Camilo entregou mensa-gem evangelistica. Esta foi a maior reunião já realizada pela Associação.
1954 – CONDUZINDO ITINERANTE NO SERTÃO EM JEGUES.
66. VAMOS CONHECER O SERTÃO. Itinerante DINARE C RODRIGUES. OEvangelizador nº 12, Outubro de 1954, p. 1. RELATÓRIO DE VIAGEM. Saindo de Recife no dia 6, com destino a Triunfo, no Sertão de Pernambuco. Recebidas pelo missionário Seright com o “jeep” em companhia do pastor Vicente Silva e outro irmão da Igreja de Triunfo. Hospedada na residência do Dr. Seright, na Escola Bíblica Serra Verde, onde passou dia em repouso. Visita a casa do capitão Jose Ferreira (PMPE) onde ficou hospedada a semana. No domingo iniciou as atividades, ensinando a classe das moças, numa manhã de frio no sertão. O trabalho da mocidade é entusiasmado e ate o missionário a convidou para seu grupo. Na União de Intermediários Miss Seright, líder do grupo, dirige o programa. A itinerante aproveitou o período para ensinar Sumário de Evangelismo Pessoal aos adultos, enquanto a professora d. Jovelina Gomes, esposa do pastor Vicente Gomes da Silva, ensina “O Peregrino” ás crianças.
No dia 14 seguem para Barra, sitio pertencente a município de Flores, onde durante cinco noites ensina elas histórias bíblicas e trechos da Palavra Sagrada a esses sertanejos, muitos dos não sabem ler, mas tem intenso desejo de aprender a ler, escrever e a contar. Impressiona a dedicação do pastor João Joaquim da Silva ministrando lições espirituais como também ajudando-os para o futuro (ensinando a ler). Chega o “jeep” que as leva a Serra Talhada a capital do Sertão. Uma cidade onde há colégios e hospitais e onde em breve haverá transporte ferroviário. A Igreja Batista está colocada numa boa rua, os crentes são bons e havendo um impulso que os leve para a frente a cidade virá a conhecer o melhor amigo – Jesus Cristo. Oremos para que o pastor Antonio Barbosa e os crentes daquela Igreja possam arrancar dos corações daquele povo rebelde o câncer da incredulidade. Cooperaram com o estudo do Manual da Escola Dominical dezessete pessoas. Encerrada a semana pois chega o “jeep” para leva-las a Salgueiro onde pernoitam, enquanto o missionário Seright continua até Tupananci.
Em Salgueiro, onde chegam a noite, para o culto, o pregador foi o pastor Camilo. A partir de Salgueiro seguem na manhã seguinte na companhia do pastor João Camilo até Cabrobó, onde permanecem sábado e domingo.. Na segunda e terça irão para Ibó, na Bahia, enquanto os seus companheiros conhecem a cidade e preparam para dirigir estudo sobre evangelismo. Este teve uma presença de 27 pessoas, sendo aprovadas 22.
Na segunda feira sente ela a duvida quanto a vontade de Deus pois há um vento muito forte no rio (São Francisco), porem atendem aos desejos daquela gente simples e hospitaleira. A viagem é agradável com a canoa descendo o Rio São Francisco passando na cachoeira do Rio Pequeno. Na margem baiana necessitam andar quatro horas a cavalo até chegar a Espinheiros, onde são esperados com ansiedade. Alegres, promovendo o trabalho de Missões Estaduais contribuindo para alegrar uma pequena igreja no sertão baiano. Ficam ali apenas uma noite, regressando a Cabrobó. Na volta encontram o pastor Camilo montado num jeque (jumento, asno) e vão todos montados nesses animais, com um guia na frente, ensinando o caminho, queimados pelo sol do sertão, marcados pela poeira e pelo vento. De Cabrobó retornam a Salgueiro em caminhão. Ali ensinou na Escola Dominical aos adultos, e as crianças “o Peregrino” e ensinou o Manual da Escola Dominicial. O estado de saúde obriga a itinerante a regressar a Recife, com a feliz impressão do trabalho batista em Pernambuco.
Dinaire Caldas Rodrigues foi eleita pela Convenção Evangelizadora para a função de itinerante do Departamento de Educação Religiosa. Formada pela Escola de Trabalhadoras Cristas (ETC) em 1952, é membro da Igreja Batista da Concórdia, tendo experiência no campo durante os seis anos em que foi aluna da escola e realizou trabalhos nas férias.
1954 – PASTOREANDO A IB CABROBO E ORGANIZANDO A IB IBÓ (BA).
67. IGREJA BATISTA DE CABROBÓ COMEMORA O 19º. ANIVERSÁRIO.OEvangelizador nº 12, Outubro de 1954, p. 8. A histórica Igreja Batista de Cabrobó comemorou, no dia 19 de setembro corrente, o seu 19º aniversario com a presença dos seus membros, das congregações, e amigos da vizinhança. Organizada em uma casa particular, por não ser possível a construção de templo na cidade de Cabrobó, devido a reação do clero, a Igreja construiu o templo na fazenda Carreiro de Pedras, de propriedade do irmão Rubem Soares Carvalho. Durante estes anos, porém, mantinha uma congregação na cidade.
Com a ida, em abril do corrente, do pastor João Camilo dos Santos ao campo, fixando residência na cidade de Cabrobó, o trabalho tomou novo impulso. Removidos pelos anos, os obstáculos que impediam o levantamento de um templo evangélico na cidade, começou a campanha respectiva, que resultou na grande oferta de amor do dia do aniversário de Cr$ 6.000,00.
Em comemoração ao aniversário, a igreja levou a efeito uma série de conferencias evangelísticas, durante a semana precedente à data festiva, sendo pregador o pastor Luiz Domingos Coelho, terminadas com um programa especial no dia 19. Para este cooperaram, além dos elementos da igreja local, o pastor João Joaquim da Silva, que já exerceu o pastorado do referido rebanho por muitos anos, ora pastor da IB da Barra, o pastor Luiz Domingos Coelho da IB em Salgueiro e os missionários Geraldo B. Serigth e Catarina Smith, diretora do
Departamento de Educação Religiosa da Junta Evangelizadora.
A Igreja iniciou o ano findo com 128 membros, dando carta demissoria, em abril, a 35 membros para a organização da Igreja Batista de Ibó, no outro lado do Rio São Francisco, onde mantinha, por muitos anos uma florescente congregação. A igreja-filha tem agora 43 membros, havendo recebido 8 por batismo. Assim a Igreja de Cabronó começa o novo ano com 99 membros, contando os seis batizados no dia do aniversário.
Na sua mensagem à Igreja, o pastor João Camilo lançou um desafio tríplice para o novo ano: (1) Um evangelista para ajudar o pastor no vasto campo. Lembrou aos irmãos a infinidade de povoados à margem do Rio São Francisco onde não há nenhum testemunho evangélico, entre outros Orocó, Pedra Branca, Marici, as ilhas de Asunção e Caracapá, cada uma contando com mais de dois mil habitantes e de onde sobe o brado: “Daí-nos luz!”.; (2) construção do novo templo; (3) Escolas para educar o povo: uma na cidade de Cabrobó; uma na Ilha de Assunção, que servirá também a de aracapá; esta escola de maior urgência devido ao fato de não existir em nenhuma das ilhas escola de espécie alguma; escolas de alfabetização nos arredores.
O pastor João Camilo, em conversa, revela características interessantes do povo do sertão, as quais cativam a simpatia do obreiro. Diz ele: “o povo do sertão é bom e hospitaleiro. Dá o melhor que tem, muitas vezes passando fome como resultado. Anseia pelo Evangelho, o que demonstra no fato de caminharem, os crentes, grandes distâncias, alguns até seis léguas, a fim de assistiram aos trabalhos”. Conta a experiência do batismo de um candidato que viajara oito léguas para a cerimônia. Outros tem a felicidade de viajar em animais, como o casal com cinco filhos fazendo 4 léguas com 3 jumentos para sete pessoas, a fim de assistirem a festa de aniversário.
Somente quando indagado sobre as dificuldades do trabalho o pastor Camilo toca no assunto. Entre outras salienta o transporte difícil e o analfa-betismo. O transporte mais fácil é jumento, quando este puder viajar. A alimentação constitui outra dificuldade para o forasteiro. O obreiro do sertão tem que aprender a comer feijão (...).
Pesquisa realizada pelo Historiador, Pastor Francisco Bonato Pereira.